quinta-feira, 28 de abril de 2011

Antropologia Forense


O QUE É A ANTROPOLOGIA FORENSE?


A antropologia é a ciência que estuda o Homem num âmbito cultural e físico, considerando igualmente as suas relações. Por outro lado, o termo “forense” implica uma ciência aplicada à justiça. Logo, a antropologia forense é a aplicação legal da ciência antropológica, com o objectivo de ajudar à identificação de cadáveres e à determinação da causa de morte. Este ramo da antropologia é aplicado em situações em que existem danos consideráveis induzidos ao cadáver, tais como a decomposição do mesmo, amputações, queimaduras severas ou qualquer outro elemento que cause a deformação do corpo ao ponto de se tornar irreconhecível. Todo o trabalho em questão é realizado por técnicos especializados denominados antropólogos forenses que se auxiliam noutras áreas científicas como a patologia, investigação criminal, de entre outras. 




O antropólogo forense não se limita a conhecimentos de antropologia biológica, mas deve possuir instrução em técnicas como escavação arqueológica; examinação de cabelos, pegadas, insectos e material vegetal; reconstrução facial; sobreposição fotográfica; identificação de variações anatómicas e análise de historiais médicos; Por outro lado, técnicas mais forenses como análise da cena do crime, manejo de provas, fotografia, toxologia ou balística e armamento.

“Apesar de todos os humanos adultos terem os mesmos 206 ossos, não existem dois esqueletos iguais”.



PROCESSOS DA ANTROPOLOGIA FORENSE!

A antropologia forense estabelece‐se de acordo certas bases bastante consistentes e sistemáticas quanto ao seu método de trabalho, seguindo passos definidos e universais.
Antes de qualquer outro procedimento, a principal preocupação de um antropólogo forense, ao confrontar‐se com um corpo, vestígios esqueléticos ou outro qualquer material que se assemelhe a tecido ósseo, é classifica‐los como humanos, animais ou matéria inorgânica. Numa situação em que os remanescentes não são humanos ou os vestígios são de carácter histórico ou mesmo pré‐histórico (como por exemplo vestígios que apresentem setas cravadas no corpo ou marcas de rituais características de épocas passadas), o caso é classificado como encerrado ou é transferido para outras áreas de estudos científicos por falta de interesse prático forense.

Após revelado o interesse legal e forense no material descoberto, este é direccionado para um processo de identificação de determinados caracteres de relevância para a investigação e reconstituição do indivíduo ante mortem. Factores a identificar nesta análise antropológica serão: idade aquando da morte, sexo, estatura, peso, filiação racial e patologias e historial médico do indivíduo. Para além de se focar nestes caracteres, o antropólogo forense deve compreender e concluir o modo e a causa da morte, tal como, no caso de homicídio, identificar o agressor.
  Inventário:
O inventário é a primeira etapa de todo o trabalho do antropólogo forense, sendo composto pela identificação, registo e descrição pormenorizada de todos os ossos relevantes na identificação do cadáver.
Neste processo é vital a abstracção de o esqueleto como um todo, tendo cada osso a necessidade de ser observado individualmente, não havendo por isso conceitos como crânio ou coluna vertebral, mas termos como occipital ou vértebra.
Quanto à descrição, esta deve ser realizada de modo preciso e rigoroso, tal como deve registar a condição geral dos ossos, dimensões, presença/ausência e qualquer outro tipo de anomalia ou saliência de relevância.

Filiação racial:


A identificação da filiação racial é um método de fraca fidelidade, pois baseia‐se num conjunto de correlações entre raças e características morfológicas que podem não ser verificadas empiricamente. 

De modo a obter esta informação, utilizam‐se particularidades, nomeadamente da face, que diferenciam populações com diferentes ascendências raciais. Exemplificando, indivíduos caucasianos apresentam faces mais estreitas, narizes longos e queixos proeminentes. Por outro lado, indivíduos de raça negra destacam‐se por possuírem grandes aberturas nasais e cavidades subnasais. Os asiáticos e os índios americanos exibem os ossos das bochechas salientes e características dentárias particulares.

Sexo:

A determinação do sexo do cadáver passa por uma série de metodologias de análise de medidas de vários componentes do esqueleto, tais como a pélvis, margens supraorbitais e o crânio.


Idade:


A melhor forma de determinar a idade do individuo aquando a sua morte é a análise dos seus dentes e mandíbula. Quando estes elementos não são encontrados, são utilizadas técnicas comparativas entre as suturas do crânio e a fusão das epífises.

Inicialmente procede‐se à análise das suturas endocranianas uma vez que são estas as que menos são expostas a factores ambientais.

A determinação da idade é um procedimento muito pouco rigoroso, sendo o resultado final representado com uma margem de erro relativamente grande.


Estatura e Peso:

Outra característica importante a determinar é a altura do indivíduo em vida, que é dada por uma fórmula que considera a dimensão de três ossos pares (tanto o direito como o esquerdo): úmero, rádio e ulna. A fórmula em questão seria a seguinte:

Estatura = 3.26 x (úmero) + 62.10 (erro = +/‐4.43cm) Estatura = 3.42 x (rádio) + 81.56 (erro = +/‐4.30) Estatura = 3.26 x (ulna) + 78.29 (erro = +/‐4.42) Nesta fórmula aplica‐se a média das medidas de ambos os ossos do lado esquerdo e direito. De seguida calcula‐se a média das alturas obtidas e dos erros referidos. Por fim, achamos a margem de erro da idade que consiste em somar e subtrair ao valor final da altura.
Exemplo:
Úmero – direito (33,3) e direito (33,4) – média (33,35) →3,26 × 33,35 + 62,1 = 170,82
Rádio – direito e esquerdo (25,9) → 3,42 × 25,9 + 81,56 = 170,14
Ulna – direito (28,5) e esquerdo (28,4) – média (28,45) → 3,26 × 28,45 + 78,29 = 171,04
Média de Alturas – 170,67
Médias de Erros – 4,38
Altura final – entre 166,29 (170,67 – 4,38) e 175,05 (170,67 + 4,38)
Por outro lado, após calcular a altura prevista do indivíduo, podemos alcançar o peso do mesmo pela aplicação directa da seguinte fórmula:
P (libras) = 4,4 × altura (em polegadas) – 143

Tempo desde a morte:
Uma das questões de mais difícil resposta para um antropólogo forense coloca‐se em relação ao tempo decorrido entre a morte do indivíduo e o momento da autópsia.
Os ossos não se decompõem tão facilmente como os outros tecidos, numa primeira fase de decomposição a pele e os tecidos moles são putrificados. Quando um corpo se encontra parcialmente decomposto, significa que ainda apresenta articulações e cartilagens.
A decomposição de um corpo depende de vários factores, tais como: a temperatura do solo e a sua acidez. Quando um corpo é deixado à superfície a actividade dos insectos vai ocorrer imediatamente e, em duas semanas, o corpo estará parcialmente decomposto e, ao fim de oito meses, estará decomposto na sua totalidade. Se um corpo for queimado leva entre um a dois anos até ficar totalmente decomposto, por outro lado, um corpo deixado em solos arenosos pode mumificar ficando então conservado.
O número e o tipo de ossos disponíveis na cena do crime podem ajudar a determinar há quanto tempo se deu a morte do indivíduo, por exemplo: ossos pequenos dispersam‐se mais facilmente.
Quanto mais tempo sucede desde a morte, mais difícil se torna de determinar o momento da morte.
Modo e Causa da morte:
Causa e modo da morte são conceitos distintos. O primeiro, refere‐se ao factor que na prática provocou a morte do indivíduo, ou seja, descrições como doença, ferimento ou lesão. Por outro lado, o conceito de modo da morte aborda o tipo de morte do indivíduo, pode ser integrado em 5 tipos: homicídio, suicídio, acidental, natural e desconhecida.
A determinação da causa da morte é relativamente fácil quando o cadáver ainda apresenta toda a sua estrutura de tecidos, músculos e carne. Técnicas como raio‐x são de máxima importância nestes processos, e neste caso toda uma gama de características de interesse são exaltadas, como lesões ósseas, restos de metais, dentes serrados ou fragmentos de balas.
No entanto, apesar de toda esta contribuição do antropólogo forense, quem declara a causa e modo da morte do indivíduo é um médico que analisa e avalia a informação cedida pelo antropólogo em conjunto com a sua própria autópsia.

Trauma e Marcas:
Nesta fase pretende‐se identificar particularidades do indivíduo que permitam a sua identificação. Para isso, pormenores como fracturas, vestígios de cirurgias, marcas de agressões passadas ou mesmo envolvidas na causa da morte, deformações ósseas causadas por doenças ou outro factor, de entre muitos outras pequenas malformações ou alterações que são únicas de cada ser. Este análise extensiva em conjunto com um historial médico do cadáver permitem identificar em muitas situações cadáveres que seriam classificados como desconhecidos de outro modo. 


CASO PRÁTICO



O caso que se segue pretende exemplificar, brevemente, uma investigação criminal, sublinhando a participação do antropólogo forense na mesma. (foi baseado no seguinte endereço: http://www.crimeandclues.com/forensicanthropologist.htm)

É reportado à polícia por um caçador a presença de um esqueleto ainda coberto por roupas desfeitas e dispersas numa zona densamente arborizada. Ao local deslocaram-se agentes policiais e técnicos forenses, que garantiram que toda a área envolvente foi devidamente fotografada e revista. Prontamente o esqueleto foi transportado para a morgue mais próxima.

Uma vez na morgue o esqueleto é examinado exaustivamente por um médico que procura marcas variadas que permitam identificar a causa da morte ou mesmo o indivíduo. O cadáver não apresentava qualquer tipo de lesões que o identificassem, tal como não possuía qualquer documento identificativo nas suas roupas 



O médico que examinou o corpo determina que se trata de um esqueleto de um indivíduo do sexo masculino de meia-idade, através de medições da zona púbica. O médico tenta ainda caracterizar outros factores identificativos do cadáver mas o mesmo não apresenta nenhuma outra evidência visual.


Uma vez terminado o papel do médico, é chamado um antropólogo forense para continuar o trabalho de identificação. Primeiro, o antropólogo tenta caracterizar a filiação racial do indivíduo. Examinando o crânio, foi possível concluir que os seus traços eram consistentes com aqueles de um caucasiano e estudando microscópicamente um cabelo louro encontrado no esqueleto obteve-se uma confirmação. 

Logo depois, a bacia, o esmalte dos dentes, o crânio, alterações na medula espinal e estudos microscópicos dos ossos e dos dentes foram examinados e o antropólogo forense concluiu que o indivíduo teria uma idade entre 35 e 45 anos quando faleceu. Através dos ossos longos encontrados calculou-se a estatura do homem encontrado, que seria cerca de 1,72m com uma pequena margem de erro de cerca de 2 a 3 cm.

Posteriormente, o antropólogo forense procurou achar o intervalo de tempo decorrido desde a morte do indivíduo à análise do cadáver. A conclusão a que o técnico chegou foi que a morte teria ocorrido num intervalo de 6 a 9 meses, tendo em conta as condições dos tecidos moles e o crescimento de raízes nas roupas do cadáver.

Finalmente, depois de ter uma ideia de como o indivíduo seria em vida, o antropólogo relatou que havia pequenos cortes em 3 costelas e numa vértebra, o que significa que o indivíduo foi esfaqueado pelo menos três vezes. Verificou-se também uma fractura acima do olho direito e da maxila, em conjunto com um septo nasal desviado (devido a uma infecção nasal).

Assim o antropólogo forense termina o seu relatório e o médico avança para relatar as conclusões obtidas aos investigadores criminais que registam a informação em bases de dados. Neste caso, a informação não foi suficiente para identificar o cadáver directamente, acabando a investigação por ser resolvida por reprodução facial que permitiu achar conhecidos ao morto que o identificar


CONCLUSÃO
A investigação criminal nos dias que correm é uma arte engenhosa cada vez mais científica e avançada, e com o seu desenvolvimento outras áreas vêem‐se envolvidas na ajuda deste desvendar do mundo post mortem. Assim, esta arte passa por mergulhar no “mundo dos mortos” e obrigar o cadáver a “falar” e a “contar‐nos a sua história”.
Neste jogo com a morte, a antropologia forense entra a matar e participa de modo activo e vital levando muitas vezes à vitória. Cada vez mais esta área é reconhecida como essencial na ciência forense não só porque trabalha principalmente com os ossos que são os vestígios mais frequentemente encontrados, mas também porque auxilia na reconstrução do indivíduo em vida.
Os antropólogos forenses têm tudo para contribuir para os investigadores criminais e podem ser eles a determinar o sucesso ou o fracasso de uma investigação ou podem ser eles a direccionar a investigação para um ou para outro suspeito. De facto, a antropologia forense é a ciência que reconstrói a vida a partir do morto.

BIBLIOGRAFIA
�� http://portofinobelize.com/art/atmIMG_2394‐skeleton800.jpg
�� http://www.crimeandclues.com/forensicanthropologist.htm
�� http://www.anthro4n6.net/forensics/
�� http://en.wikipedia.org/wiki/Forensic_anthropology
�� http://www.forensicanthro.com/
�� http://images.google.com/images?hl=pt‐PT&q=racismo&btnG=Procurar+imagens&gbv=2 
�� http://www.nlm.nih.gov/visibleproofs/media/detailed/vi_c_382.jpg


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